Infância e Juventude

A Importância de Brincar na Formação de Laços com os Nossos Filhos

Nathalie Marques

Crianças a brincar
Se desejamos compreender os nossos filhos, temos de compreender as suas brincadeiras. Bettelheim, B.2003

Falamos de brincar

Quando falamos de brincar, automaticamente falamos da sua importância para desenvolver as competências das crianças ao nível cognitivo, social, motor, e pessoal. Mas quero deixar-vos uma perspetiva um pouco diferente, sobre os laços emocionais.

Os adultos vêm, em muitos momentos, as brincadeiras como uma ocupação das crianças para passarem o tempo, em que estão apenas a fazer “as suas coisas”, muitas vezes para nós sem uma importância por aí além. A nós dá-nos jeito, porque estamos a fazer a nossas coisas “importantíssimas”, que não podem ser adiadas nem interrompidas. Ouvimos umas gargalhadas e até sorrimos porque gostamos de ouvir os nossos filhos a emanarem felicidade. E isto acaba por pôr um pano em cima do nosso sentido de responsabilidade porque pensamos “ainda bem que está entretido e feliz”. E assim, esquivamo-nos dessa “tarefa” sem culpa porque achamos que ele nem vão notar que não participámos.

A questão surge quando as crianças nos pedem para brincar, num pedido consciente e expectante. No adulto, acende-se uma vontade de dizer “agora não posso” e com isso adiamos o momento de brincar com eles, com a desculpa de que estamos a fazer algo que não podemos interromper e deixamos passar um momento de ouro. Claro que há momentos em que realmente não estamos disponíveis, porque a vida é mesmo assim, mas há outros em que é apenas o nosso espírito de adulto que não está com energia e nem refletimos sobre o significado daquele pedido.

Para as crianças o valor de ter um adulto a brincar é extremamente significativo. Os adultos têm apenas uma vaga ideia do valor que isto leva para o seu dia-a-dia e para o resto das suas vidas. A sua importância embebe-se na sua autoestima, na forma como se vê nas suas competências, a forma como dá valor aos seus interesses e no valor que percebe que tem enquanto pessoa.

A criança que percebe no adulto um verdadeiro empenho nas atividades que lhes são importantes, cresce com a compreensão de que a sua existência é valorizada, e isso, será uma chave muito importante para o seu sucesso enquanto adulto.

Os adultos valorizam muito as suas tarefas e atividades, mas muitos se esquecem que as brincadeiras e interesses pessoais têm muito valor para as crianças. Estar empenhado na construção dos legos é uma entrega muito real, que põe em causa a sua noção de conquista, de motivação, de competência e sucesso. Mas quando o adulto exige a atenção da criança e ela diz “só mais um bocadinho”, por vezes a sua reação é de irritação porque não acha prioritário o que a criança está a fazer, mas sim o que ele considera ser mais válido. E quando o adulto não compreende o seu pedido, de prolongar a tarefa em que está empenhado, ele está a transmitir a mensagem de que a sua atividade não é assim tão importante, e automaticamente, a criança sente-se desacreditada. O truque é simples, dar tempo à criança para concluir o que está a fazer, avisando com antecedência ou negociando um acordo sobre quando parar. E isto, o que indica à criança, é que ela é respeitada e valorizada.

E por fim, deixo-vos uma importante mensagem sobre as areias movediças do brincar. Quando a criança se cativa pelos mesmos entretenimentos que o adulto, há uma paixão em duplo sentido, em que o adulto se entusiasma com a partilha dos seus interesses com uma pessoa que ama e em que a criança sente-se uma estrela por corresponder à alegria do adulto. E é aqui que começa o jogo do equilíbrio entre expectativas e ilusões. O que alegra a criança é perceber que o adulto encontra felicidade na relação que se encontra neste momento enriquecida pela mesma paixão, o adulto fica deliciado por ter encontrado alguém a quem deixar o seu legado. Mas o desamor pode acontecer quando a expectativa do adulto se torna numa ilusão. Na ilusão de que a criança irá interessar-se exatamente nos mesmos moldes. E por isso, para não afundar na areia movediça, é preciso que o adulto entenda que o entusiasmo só se manterá enquanto a criança puder manter a satisfação nas regras criadas à luz da brincadeira. É proibido exigir que a rigidez e a formalidade dos adultos imperem naquela interação e naquela atividade comum.

 

Dicas

  1. Recorde-se que brincar não é apenas um passatempo, é um momento de dedicação a algo com muita relevância para a criança.
  2. Reconheça a importância da brincadeira para a criança e respeite a necessidade de a prolongar um pouco, quando solicitado.
  3. Enquanto brinca com a criança, encontre o que lhe traz alegria nesse momento e envolva-se sem distrações.
  4. Quando partilhar interesses, recorde-se que não estarão empenhados da mesma forma e que o que importa é a felicidade de ambos, cada um à sua maneira.

Se é mãe ou pai e identifica que a sua criança precisa de apoio de um profissional para o ajudar, poderá solicitar o apoio através do nosso formulário. Ficamos à sua espera

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