Saúde Mental e Bem Estar

O papel do Terapeuta da Fala na Ortopedia Funcional dos Maxilares

Tânia Machado

Menina numa sessão de teapia da fala

O Terapeuta da Fala desempenha um papel importante na Ortopedia Funcional dos Maxilares. É o profissional, na área da Motricidade Orofacial, que atua na prevenção, avaliação, diagnóstico e intervenção das alterações que afetam as diferentes áreas do sistema estomatognático como a respiração, fala, mastigação e deglutição. 

O Terapeuta da Fala é capaz de relacionar as caraterísticas craniofaciais como a má-oclusão com o padrão muscular, relacionando assim, a forma e função.  

O crescimento ósseo da face é feito pela contração muscular durante a execução das mimicas faciais e funções estomatognáticas. Havendo alterações nestas funções, poderão surgir alterações ao nível da posição dos dentes, pois há uma relação direta entre o crescimento orofacial e a instalação de uma má-oclusão. 

Na função de mastigação observa-se uma relação direta com o crescimento e desenvolvimento craniofacial. A mastigação deve ser bilateral e alternada, ou seja, devemos mastigar os alimentos para os dois lados de forma alternada, distribuindo a força mastigatória, intercalando entre períodos de trabalho e de repouso musculares, alcançando um equilíbrio muscular e funcional. Se a mastigação for unilateral (só para um lado), apenas haverá crescimento facial de um lado, levando a um desequilíbrio orofacial. Assim como, os alimentos oferecidos às crianças devem ser secos, duros e fibrosos, para aumentar a função mastigatória. No entanto, atualmente há cada vez mais alimentos processados, o que não favorece o crescimento e desenvolvimento equilibrado da mandíbula.

O trabalho do Terapeuta Fala passa por:

  • Anamnese – Recolha de informações sobre o historial clínico ao nível das funções (alimentação, respiração, sono e hábitos orais). A presença de hábitos orais como o uso de chucha ou a sucção digital são fatores de risco para o desenvolvimento de má-oclusão dentária. Estes hábitos podem levar a alterações na morfologia das estruturas orofacias: palato duro, posicionamento dentário, movimentos da língua, alterações periorais e fonoarticulatórias. 

  • Avaliação Funcional – realização de avaliação das funções orofacias como a respiração, mastigação, deglutição e fala, bem como da postura de forma a identificar alterações funcionais que possam contribuir para alterações dentofaciais.

  • Consciencialização – através do uso de vídeos e/ou objetos de forma a explicar o que é normal que aconteça e o que a criança tem alterado. Por exemplo: a respiração influencia o desenvolvimento e posicionamento dos maxilares, da língua e o espaço intraoral. A respiração deve ser nasal, para que haja uma correta posição da língua na cavidade oral, para um crescimento do palato adequado e consequentemente para criar espaço para a dentição definitiva. Uma criança respiradora oral, ou seja, que respira pela boca, irá apresentar alterações a diversos níveis como palato ogival, não realiza encerramento labial, língua anteriorizada e baixa, mastigação preferencial unilateral e preferência por alimentos moles, podendo assim haver alterações ao nível da oclusão dentária. 

  • Orientações – envio de exercícios que devem ser realizados em casa para manutenção das funções orofaciais e para complementar o tratamento terapêutico.

  • Reeducação miofuncional – após identificação das disfunções orofaciais, o Terapeuta da Fala irá reeducar as funções através de terapia manual e da terapia miofuncional de forma a eliminar hábitos orais, melhorar o tónus muscular, a coordenação e função dos músculos orofacias.

  • Orientações – envio de exercícios que devem ser realizados em casa para manutenção das funções orofaciais e para complementar o tratamento terapêutico.

O tratamento ortopédico dos maxilares é multidisciplinar, envolvendo terapeutas da fala, ortodontistas, ortopedistas faciais, otorrinolaringologistas e outros profissionais de saúde.

O trabalho conjunto entre a Terapia da fala e a Ortopedia Funcional dos Maxilares, ajuda a restabelecer a funcionalidades das funções orais, o que consequentemente melhora a reabilitação ortodôntica. Durante o uso de aparelhos ortopédicos orais, o terapeuta da fala ajusta os exercícios conforme necessário para garantir que as melhorias funcionais acompanham as correções estruturais. 

Esta interligação entre a Terapia da Fala e a Ortopedia Funcional dos Maxilares é fundamental para se conseguir desenvolver uma abordagem dinâmica e interativa, identificando e evitando complicações ou recidivas no tratamento e na melhoria das funções orofaciais, melhorando a qualidade de vida, promovendo assim o sucesso terapêutico. 

Referências bibliográficas

Balinha S. (2014) Encaminhamento e tratamento ortodôntico: interação entre a Ortodontia e a Terapia da Fala. Escola Superior de Saúde do Alcoitão

Matsuoka E., Gonçalves dos Santos D., Marchesan I. (2006) Padrões de fala e de deglutição em usuários de aparelho ortopédico funcional com e sem o uso do aparelho. Revista CEFAC, vol. 8, núm. 2, abril-junio, 2006, pp. 198-204
Instituto Cefac, São Paulo, Brasil 

Póvoas C., Esperancinha C. (2014). Aparelhos Ortopédicos Funcionais induzem respostas de crescimento e desenvolvimento, aumentando a eficiência mastigatória. Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial 55(S1): e49-e67

Stanley M., Paz A, Curto A., Fernandes R. (2018) Abordagem multidisciplinar de uma má oclusão dentária e perturbação miofuncional através da Ortodontia e Terapia da Fala. O Jornal Dentistry

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